Com carreira na PM, deputados convocam para ato no dia 7 de setembro
Em meio à articulação nacional de policiais para participação nas manifestações a favor do presidente Jair Bolsonaro e contra o Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 7 de setembro, na Bahia deputados estaduais com carreira construída na Polícia Militar têm feito convocações para o ato em Salvador. O governo da Bahia diz monitorar a movimentação e, em uma carta com outros estados do Nordeste, conclamou “a sociedade e as instituições a uma atitude firme em defesa da legalidade e da paz”.
No documento, o governador Rui Costa (PT) e outros chefes de Executivo nordestinos afirmam que “instituições estaduais” vão cumprir a missão de “proteger a ordem pública” e não participarão de qualquer ato “fora da Constituição”. “Não permitiremos que atos irresponsáveis tumultuem o Brasil”, diz o texto.
Em vídeos publicados nas redes sociais, os deputados Soldado Prisco (PSC) e Capitão Alden (PSL) convocam para a manifestação na capital baiana, que ocorrerá no Farol da Barra.
Já o secretário de Segurança Pública da Bahia, Ricardo Mandarino, diz monitorar pequenos grupos dentro da PM-BA e nega qualquer risco de ruptura institucional. “Estamos monitorando sim e vamos controlar esses excessos. Não acredito que a Polícia Militar no Brasil esteja articulada para dar um golpe. Infelizmente temos um presidente arruaceiro e que consegue mobilizar um grande número de seguidores. Quando você tem uma pessoa totalmente irresponsável no governo, consegue adeptos para promover arruaça. Acredito que possa haver pontos de conflito específicos, mas não acredito que esse movimento vá resultar em um golpe militar que acabe com a democracia”, afirmou Mandarino, em entrevista à rádio A TARDE FM.
“Quem quiser fazer manifestação, faça. A favor ou contra o governo. Agora, atos de violência, depredação do patrimônio público privado e outras ações dessa natureza, nós estamos empenhados para não deixar que isso aconteça”, completou o titular da SSP-BA.
Ao convocar para o ato em Salvador, no Instagram, Prisco não cita Bolsonaro, mas critica a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson, apoiador do presidente, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF. “Não vamos falar de partido político. Meu partido político é o Brasil. Eu sigo e sempre vou seguir Jesus Cristo. O que aconteceu com Roberto Jefferson e outras pessoas não é novidade pra mim. Inventaram até uma nova modalidade: milícia digital. Nunca vi isso no Código Penal”, afirma o deputado, antigo líder de greves da polícia baiana e coordenador-geral da Aspra, maior associação de policiais e bombeiros militares do estado, segundo o perfil do próprio parlamentar.
Ao se comparar a Jefferson, Prisco lembra de quando foi preso – ou “sequestrado”, em suas palavras. “Armas foram apontadas para a cara dos meus filhos. Fui sequestrado da Bahia e levado para destino ignorado. Fiquei em presídio federal, isso tudo já na época do governo do PT. Sei o que eles são capazes de fazer para acabar com a vida de um ser humano”, diz no vídeo.
“Vista sua camisa do Brasil. Vá participar de forma ordeira. […] Não se acovarde. Jesus só queria do lado dele os valentes. Sei que posso sofrer sanção, mas sofrerei de cabeça tranquila, porque não estou cometendo crime algum”, completa.
Procurado pela reportagem, Prisco confirmou que os policiais “têm falado do ato” e disse que os integrantes da tropa “não estão indo cooptados por ninguém, estão indo como cidadãos”. “Por mim, comparecem três milhões de pessoas”, disse, ao defender que policiais teriam o mesmo direito de protestar de outras categorias, como médicos e professores.
O debate sobre a participação de militares em atos político-partidários ganhou força após o Exército decidir não punir o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, por discursar em um carro de som durante manifestação a favor de Bolsonaro. O Regulamento Disciplinar do Exército estabelece como transgressão o ato de “manifestar-se, publicamente, o militar da ativa, sem que esteja autorizado, a respeito de assuntos de natureza político-partidária”.
Prisco também classificou como um “ato arbitrário” o afastamento do coronel Aleksander Lacerda, da Polícia Militar de São Paulo, por postagens convocando para atos pró-Bolsonaro. “Qual o problema em convocar, desde que a manifestação seja pacífica e ordeira? A gente vê deputados e governadores convocarem”, comparou. O regulamento da PM paulista proíbe aos militares da ativa manifestações de cunho político-partidário.
Sobre a prisão de Jefferson, o coordenador da Aspra disse que o instrumento “tem que ser usado em última instância”. Ao determinar a prisão preventiva do ex-deputado, Moraes escreveu que “o representado publica vídeos e declarações, onde exibe armas, faz discursos de ódio, homofóbicos e incentiva a violência, além de manifestar-se, frontalmente, contra a Democracia e as Instituições essenciais à manutenção do regime democrático de direito, entre elas, o Supremo Tribunal Federal”.
Também nas redes sociais, Alden, autor da cartilha que associa tatuagens a tipos de crimes, convoca para a “grande caminhada da Independência, a favor de Bolsonaro, contra os tiranos e a favor da democracia”. O deputado direciona a mensagem para quem é “patriota, conservador” e “acredita que Deus e a família são a base de tudo”.
Apoiadora de Bolsonaro, a deputada estadual Talita Oliveira (PSL) é mais uma que tem divulgado a manifestação na capital e atos no interior. “Estamos vendo diariamente a nossa liberdade sendo sufocada por chefes de Estado. Vimos recentemente a nossa população sendo trancafiada em casa, sem trabalho, enquanto homens que visam apenas o poder ditam as suas regras goela abaixo do povo. Não podemos mais aceitar calados tamanha censura contra nós conservadores”, afirmou, por meio de nota.
Procuradas, a Associação de Praças da Polícia e Bombeiro Militar da Bahia (APPM-BA) e a Associação dos Oficiais da Polícia Militar da Bahia – Força Invicta não se manifestaram sobre o assunto até o fechamento.
A Tarde