Ernesto Araújo acusa lobby por 5G chinês

Na tarde deste domingo, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, declarou, por meio de uma rede social, que a presidente da Comissão de Relações Exteriores, senadora Kátia Abreu (PP/TO) teria intercedido para que ele acenasse favoravelmente aos chineses na disputa preliminar pela implantação da rede de internet 5G, no Brasil, às vésperas de sua audiência no Senado. “Se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será um rei no senado”, publicou o chanceler, reproduzindo suposta frase da senadora.

Na audiência pública, Araújo foi alvo de duros ataques, críticas e até descomposturas, por parte dos senadores. Após o episódio, sua substituição no cargo passou a ser dada como certa.

A senadora respondeu: “Desviar o assunto pra tirar o foco do que é mais importante : Vacinas e vidas! Vamos voltar ao jogo rápido. Não farei o jogo deles”.

Em nota, Kátia Abreu afirmou: “O Brasil não pode mais continuar tendo, perante o mundo, a face de um marginal. Alguém que insiste em viver à margem da boa diplomacia, à margem da verdade dos fatos, à margem do equilíbrio e à margem do respeito às instituições. Alguém que agride gratuitamente e desnecessariamente a Comissão de Relações Exteriores e o Senado Federal” (leia a íntegra da nota de Kária Abreu no final deste post).

Entre os nomes cotados para a vaga está o do almirante Flávio Rocha, homem da estrita confiança e espécie de “faz-tudo” do presidente Bolsonaro. Rocha já desempenhou missões espinhosas, determinadas pelo chefe, inclusive no contato com autoridades estrangeiras, em substituição informal a Araújo. O presidente aprecia sua discrição e eficiência. No Planalto, o auxiliar é visto como aquele “que entrega” a missão dada.

A pressão sobre Bolsonaro para que afaste os ministros da “ala ideológica” se intensificou esta semana, conforme registrado por este blog, principalmente após o contato da cúpula do congresso com expoentes do setor financeiro e industrial. A elite empresarial deixou claro aos presidente da Câmara, Artur Lira (PP/AL), e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM/MG), em mais de um encontro nos últimos dias, que exigia uma mudança de rumos da parte do governo.

A insatisfação se estende também ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Ao lado de Araújo, ambos são vistos como entraves para a retomada econômica, e responsáveis pela boa parte da imagem negativa do Brasil no exterior.

Veja a íntegra da nota da senadora Kátia Abreu:

O Brasil não pode mais continuar tendo, perante o mundo, a face de um marginal. Alguém que insiste em viver à margem da boa diplomacia, à margem da verdade dos fatos, à margem do equilíbrio e à margem do respeito às instituições. Alguém que agride gratuitamente e desnecessariamente a Comissão de Relações Exteriores e o Senado Federal.

É uma violência resumir três horas de um encontro institucional a um tuíte que falta com a verdade. Em um encontro institucional, todo o conteúdo é público.

Defendi que os certames licitatórios não podem comportar vetos ou restrições políticas. Onde está em jogo a competitividade de nossa economia, como no caso do leilão do 5G, devem prevalecer os critérios de preço e qualidade, conforme artigo “O Céu é o Limite” que divulguei na Folha de S.Paulo (21/03/21).

Ainda alertei esse senhor dos prejuízos que um veto à China na questão 5G poderia dar às nossas exportações, especialmente do Agro, que vem salvando o país há décadas. Defendi também que a questão do desmatamento na Amazônia deve ser profundamente explicada ao mundo no contexto da negociação para evitar mais danos comerciais ao Brasil.

Se um Chanceler age dessa forma marginal com a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado da República de seu próprio país, com explícita compulsão belicosa, isso prova definitivamente que ele está à margem de qualquer possibilidade de liderar a diplomacia brasileira. Temos de livrar a diplomacia do Brasil de seu desvio marginal.”

R7