Sob protesto da direita, Lula critica soluções militares para conflitos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou na manhã desta terça-feira (25), durante discurso no Parlamento de Portugal, “soluções militares” para conflitos mundiais e defendeu o diálogo para resolver embates. O discurso de Lula foi interrompido algumas vezes por parlamentares da direita portuguesa que seguravam cartazes com os dizeres “Chega de corrupção”.
“Quem acredita em soluções militares para os problemas atuais luta contra os ventos da História. Nenhuma solução de qualquer conflito, nacional ou internacional, será duradoura se não for baseada no diálogo e na negociação política”, disse.
Em sua fala, o presidente lembrou a pandemia de Covid-19, em que 700 mil pessoas morreram no Brasil, e atacou a direita ao mencionar o papel das fake news no combate ao vírus. “Metade dessas mortes poderia ser evitada não fossem as ‘fake news’, o atraso na obtenção de vacinas e a negação da ciência feita pela direita do meu país. Fomos atacados pelo vírus da anticiência e do desprezo pela vida humana”, afirmou.
No discurso, Lula também criticou o que chamou de “políticos demagogos” contrários à integração da Europa e defendeu a ampliação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Aqui na Europa, políticos demagogos que dizem não serem políticos negam os benefícios conquistados no continente em décadas de paz, cooperação e desenvolvimento dentro da União Europeia. Eu considero a integração resultante da União Europeia um patrimônio democrático da humanidade. E eu vi no Brasil a consequência trágica que sempre acontece quando se nega a política, se nega o diálogo”, completou.
Lula discursava na tribuna da Assembleia da República Portuguesa quando opositores vaiaram o petista. Cartazes contra Lula também foram exibidos pelos parlamentares de Portugal. Na sequência, eles foram repreendidos pelo presidente Augusto Santos Silva, que pediu “educação” aos presentes na sessão plenária.
Reaproximação diplomática
A viagem foi marcada pela reaproximação diplomática entre os países e pela assinatura de acordos em diversas áreas, como internacionalização de startups, validação de diplomas de ensinos fundamental e médio e combate ao racismo contra brasileiros que vivem no país europeu.
Nesta terça (24), Lula assinou o diploma do prêmio Camões, concedido em 2019 ao compositor e cantor Chico Buarque de Hollanda. A honraria ainda não tinha sido entregue por falta da assinatura do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em discurso, Chico Buarque agradeceu aos jurados e aos presidentes do Brasil e de Portugal. “Valeu a pena esperar por essa cerimônia marcada não por acaso às vésperas do dia em que os portugueses descem a avenida da Liberdade a festejar a Revolução dos Cravos. Lá se vão quatro anos que meu prêmio foi anunciado e eu já me perguntava se me haviam esquecido, porque prêmios são perecíveis”, disse o cantor.
Taxa de juros
Na segunda-feira (23), o presidente voltou a criticar o atual patamar da taxa básica de juros do Brasil, mantida em 13,75% ao ano desde agosto do ano passado. Em encontro com empresários em Matosinhos, na região do Porto, em Portugal, o petista afirmou que a Selic está “muito alta”. Lula vem fazendo reiteradas críticas à taxa de juros desde que assumiu o governo.
Revolução dos Cravos
Em sessão solene nesta terça, o Parlamento português vai homenagear o 25 de abril, data de celebração da Revolução dos Cravos, que derrubou o regime ditatorial instaurado no país por António Oliveira Salazar.
O discurso de Lula no Parlamento do país europeu chegou a ser anunciado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho. No entanto, em março, um grupo de deputados que fazem oposição ao primeiro-ministro de Portugal, António Costa, disse que o Parlamento foi desrespeitado com a medida.
“Isto que estamos a tomar conhecimento constitui um atropelo inaceitável àquilo que é a própria instituição parlamentar. O senhor ministro dos Negócios Estrangeiros não está em sua casa. Esta é a casa da democracia, que tem procedimentos próprios”, reclamou o deputado Rui Rocha, presidente do partido Iniciativa Liberal.
Segundo ele, a presença de Lula na sessão da Assembleia da República deveria ser decidida pelo próprio Parlamento. “É incompreensível que o ministro dos Negócios Estrangeiros apresente uma decisão que não foi partilhada com grupos parlamentares e com os deputados. Nem António Costa, nem o ministro, nem o governo, nem o PS [partido de Costa] são donos do Parlamento”, completou Rui Rocha.
Agenda
Esta foi a primeira viagem de Lula à Europa neste terceiro mandato. Após cumprir agenda em Portugal, o presidente irá para a Espanha, onde tem encontro previsto com empresários e centrais sindicais espanholas.
R7