Cresce 66% o total de crianças que não sabem ler nem escrever no Brasil
Um levantamento do Todos pela Educação mostra que, entre 2019 e 2021, aumentou 66,3% o total de crianças de 6 e 7 anos no Brasil que, segundo os responsáveis, não sabem ler nem escrever. O número subiu de 1,4 milhão, em 2019, para 2,4 milhões, em 2021.
O percentual de crianças de 6 e 7 anos que não foram alfabetizadas passou de 25,1%, em 2019, para 40,8%, em 2021. Em 2020 e 2021, houve um aumento expressivo na taxa, que alcançou os maiores valores em dez anos de acompanhamento do indicador.
A nota técnica “Impactos da pandemia na alfabetização de crianças” apresentou indicadores que revelam os efeitos da pandemia de Covid-19 na educação. O levantamento foi produzido com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Segundo os dados, a pandemia reforçou a diferença de aprendizado entre as crianças brancas de 6 e 7 anos e as pretas e pardas. As pretas e pardas que não sabiam ler nem escrever passaram de 28%, em 2019, para até 47%, em 2021. Já entre as brancas o aumento foi de 20,3% para 35,1% no mesmo período.
Houve ainda crescimento das desigualdades entre as crianças que residem em áreas mais ricas na comparação e as que moram em áreas mais pobres do país de 2019 a 2021. Segundo a pesquisa, o percentual das que não sabiam ler nem escrever aumentou de 33,6% para 51% entre as mais pobres. Já entre as crianças mais ricas, o impacto na alfabetização foi menor, ainda assim passou de 11,4% para 16,6% no período.
Os números demonstram que a situação fica ainda mais preocupante em relação às crianças que se encontram em maior vulnerabilidade econômica.
Gráfico mostra que aumentou ao longo dos anos o número de não alfabetizados no país
REPRODUÇÃO / TODOS PELA EDUCAÇÃO
Alfabetização
A não alfabetização em idade adequada traz prejuízos para aprendizagens futuras e aumenta os riscos de reprovação, abandono e até evasão escolar.
A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) estabelece que a alfabetização seja prioridade nos dois primeiros anos do ensino fundamental para que as crianças “se apropriem do sistema de escrita alfabética de modo articulado ao desenvolvimento de outras habilidades de leitura e de escrita e ao seu envolvimento em práticas diversificadas de letramentos”.
As informações consolidadas pela nota técnica divulgada pelo Todos pela Educação confirmam as avaliações de aprendizagem que estados e municípios aplicam a estudantes e escancaram os desafios para o poder público.
“Os efeitos são graves e profundos, então não serão superados com ações pontuais. As Secretarias de Educação precisam oferecer um apoio muito bem estruturado à gestão escolar e aos professores, que já estão com imensos desafios”, afirmou Gabriel Corrêa, líder de políticas educacionais do Todos pela Educação.
Para ele, a responsabilidade tem de ser compartilhada. “Não adianta deixarmos toda a responsabilidade com os municípios, só porque ofertam a grande maioria das matrículas dos primeiros anos do fundamental. Os governos estaduais e federal não podem se omitir. Devem oferecer apoio técnico e financeiro às prefeituras. A tragédia na alfabetização não pode ficar invisível”, conclui.
R7