Mais de sete milhões de brasileiras são afetadas pela endometriose, doença silenciosa que afeta mulheres
Passar pelo período menstrual já é um incômodo na vida das mulheres. São cólicas, inchaço, dores de cabeça, nas costas, surgimento de espinhas, alterações do humor, indisposição, efeitos da menstruação que podem atrapalhar as atividades do cotidiano. Para as ‘endomulheres’, mulheres que convivem com a endometriose, alteração em que o tecido do endométrio cresce fora do útero, essas condições se intensificam e podem chegar a comprometer órgãos, a capacidade de reprodução, além de afetar significativamente a saúde e o bem-estar delas nas relações do dia a dia.
Neste 7 de maio, Dia Internacional da Luta contra a Endometriose, é importante destacar esse transtorno silencioso que afeta mais de sete milhões de brasileiras, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Em entrevista ao Acorda Cidade, a médica Andréa Alencar, que atua no Hospital da Mulher de Feira de Santana, abordou o assunto trazendo informações sonbre os sintomas, fatores de risco, diagnóstico e opções de tratamento para mulheres que sofrem dessa condição.
O que é a endometriose?
“A endometriose é uma alteração do endométrio que é um tecido glandular que é a parte interna do útero. É uma doença inflamatória, com hormônio dependente que varia do estrogênio, então é uma doença que se dá pela implantação anômala do endométrio fora da cavidade uterina”, explicou a doutora.
Sintomas
Segundo o Ministério da Saúde, uma a cada dez mulheres no país são atingidas pelos transtornos. No mundo, estima-se que cerca de 180 milhões de endomulheres sofrem com as dores anormais. São diversas as formas que a condição afeta a saúde da paciente. Os principais sintomas são chamados da Síndrome dos 6D.
“É a dismenorréia que é dor durante a menstruação, dispareunia de profundidade que é dor durante o ato sexual, dor a urinar, dor ao defecar, dificuldade para engravidar, em 70% das vezes a paciente de 50 a 70% das vezes pode ter infertilidade e dor pélvica que também pode estar relacionada em torno de 50% dos casos é o que a gente diz a doença dos 6D”, observou.
A doença pode ser silenciosa, porque por muitas vezes as mulheres negligenciam as dores que sentem e na correria da jornada dupla, trabalho, família, no cuidar dos outros, esquecem também de prestar atenção no que elas mesmo sentem ou ignoram o que o corpo está tentando dizer.
Diagnóstico
Para a paciente ser diagnosticada com a condição, não necessariamente é levada em consideração todos os sintomas. O exame de sangue CA 125 pode apresentar a presença de proteínas (CA-125), na corrente sanguínea, o que, conforme os índices, podem confirmar a endometriose. Ultrassom transvaginal, ressonância pélvica ou endovaginal também são alguns procedimentos que podem revelar a doença crônica.
“A principal maneira também de dar o diagnóstico é através da clínica. Aquela paciente que chega se referindo as queixas, a dismenorréia, a dor no ato sexual, então uma vez que você atende uma paciente que tem as queixas referidas você vai partir para avaliação principalmente através de exames de imagem que a gente tem como é método de excelência para dar o diagnóstico a ultrassonografia com preparo para pesquisa de endometriose profunda e a ressonância nuclear magnética da pelve antes se fazia também uma indicação importante através da videolaparoscopia, mas hoje tem se deixado mais de lado a vídeo laparoscopia ou laparotomia para fins de tratamento”.
Fatores de Risco
As má formações uterinas e o histórico familiar devem ser considerados como fatores de risco para elas. A menstruação retrógrada, quando se menstrua mais cedo e há uma menopausa tardia também pode haver predisposição para a doença.
“10 a 15% de todas as mulheres na fase de vida reprodutiva que a menarca pode ter endometriose e a história familiar também é de caráter importante para essa paciente desenvolver a doença”.
Tratamento
Antes de falar sobre como tratar a doença é importante destacar a importância do acompanhamento ginecológico das mulheres. Segundo levantamento realizado pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) por meio do Instituto Datafolha, mais de 40% das brasileiras não fazem exames ginecológicos de rotina.
É preciso cuidar do corpo antes mesmo de apresentar qualquer sintoma. Esta é uma premissa universal para se prevenir qualquer tipo de doença. Realizar preventivos, se atentar ao próprio corpo, aos sinais que ele possa dar, não reduzir suas dores ao analgésico e procurar entender o que está sentindo também é fundamental para evitar transtornos maiores no futuro.
Para quem já foi diagnosticado com endometriose, resta se acolher, se entender e buscar o tratamento o mais breve possível. Isso vai permitir uma vida mais saudável e plena diante das adversidades que a doença pode acarretar.
A apresentadora e influencer digital, Patrícia Ramos, convive com a endometriose há alguns anos. Nas redes sociais, ela fala abertamente sobre o assunto, inclusive, uma de suas postagens viralizou quando ela mostrou o inchaço de sua barriga após se alimentar inadequadamente. Muitas pensaram em gravidez, mas eram os efeitos da endometriose.
“Quando você tem endometriose e só sente o cheiro de glúten/lactose/açúcar. É dormir com a barriga inchada e acordar com ela chapada. Minha médica me alertou e eu só acreditei na prática; a dieta é o fator principal do tratamento da doença.”, escreveu Patrícia.
Por isso, a ginecologista reforçou a necessidade de reconhecer que cada paciente é um caso. Nutrição, tratamento hormonal e até intervenções cirúrgicas para retirar o tecido endometrial podem ser solicitadas.
“A gente deve individualizar cada paciente, porque uma paciente que tem endometriose e tem o desejo de gestar, um dos tratamentos seria até com contracepção. A maioria dos tratamentos que tem boas respostas é a utilização de hormônios, então essa paciente já utilizando o hormônio teria uma dificuldade em relação à gravidez. O tratamento vai desde o tratamento nutricional, fisioterápico hormonal, analgésico e alguns casos tratamento cirúrgico, então para gente tratar a endometriose a gente tem que individualizar cada paciente, a queixa do paciente e propor o tratamento adequado para cada uma que vai desde um procedimento mais simples como tratar com analgesia até os mais graves os mais, invasivos, que são as cirurgias então depende do grau de endometriose para você poder fazer o tratamento ideal”, explicou.
Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade