Pai do Menino Maluquinho e do Pasquim, cartunista Ziraldo morre aos 91 anos
Morreu neste sábado (06) o cartunista, escritor, jornalista, colunista e dramaturgo Ziraldo, aos 91 anos. A informação foi confirmada pela família, que não divulgou a causa da morte.
Filho de dona Zizinha e seu Geraldo — mistura que deu origem a seu nome —, Ziraldo Alves Pinto nasceu em 24 de outubro de 1932 em Caratinga (MG). Ao longo de sete décadas de carreira, deixou uma marca importante na cultura brasileira, com livros, charges e um dos principais veículos de crítica à ditadura militar, o jornal ‘O Pasquim’.
O Menino Maluquinho, sua principal obra, foi publicado em 1980, e virou adaptação para o cinema e para a TV, seriados, desenhos animados e até ópera. O livro, que vendeu milhões de cópias em todo o mundo, recebeu o prêmio Jabuti de literatura infantil de 1980.
Em 1958, ele se casou com a esposa, Vilma, com quem teve três filhos: as cineastas e dramaturgas Daniela Thomas e Fabrizia Alves Pinto e o compositor de trilhas sonoras Antônio Pinto.
O Menino Maluquinho e sua turma ganharam o mundo nos traços de Ziraldo
REPRODUÇÃO/FACEBOOK ZIRALDO
Trajetória de décadas
A trajetória como escritor, cartunista, cronista, dramaturgo e pintor, entre outros, começou ainda na década de 1950. Em 1954, enquanto estudava Direito na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), começou a publicar tirinhas no antigo jornal Folha da Manhã, que mais tarde se tornou a Folha de São Paulo.
Foi em 1957, quando se formou na faculdade e passou a publicar trabalhos na revista O Cruzeiro, que ele se tornou mais conhecido. Criou a Turma do Pererê em 1958 e o sucesso foi tamanho que as tirinhas viraram gibi em outubro de 1960. A revista foi publicada até 1964, após o início do regime militar.
‘A lua é Flicts’
Ziraldo lançou Flicts, seu primeiro livro infantil, em 1969. A obra, que fala sobre uma cor ‘diferente’, que não conseguia se encaixar no arco-íris, bandeiras e nenhum outro lugar, conta uma história sobre aceitação e respeito.
A embaixada brasileira nos EUA deu ao astronauta Neil Armstrong, que pousou na Lua no mesmo ano que o livro saiu, uma cópia do livro. Ziraldo recebeu dele uma resposta emocionada: “a lua é Flicts”.
Também em 1969, Ziraldo foi um dos fundadores do jornal O Pasquim, um dos mais importantes veículos de resistência à ditadura militar. Por causa disso, foi preso um dia depois da promulgação do AI-5, que dava poderes quase irrestritos ao regime.
Detido e torturado pelos militares, Ziraldo chegou a receber uma indenização do governo brasileiro em 2008, junto com outros jornalistas perseguidos pela ditadura.
Atração nas Bienais
Ao longo dos anos, ele se tornou um dos autores nacionais mais conhecidos. As filas de fãs que esperavam por um autógrafo de Ziraldo nas Bienais de Literatura do Rio e de São Paulo se tornaram famosas e viraram até tema de documentário.
Mesmo com idade avançada, ele fazia questão de passar de 4 a 5 horas conversando com seus fãs. Era a fila mais concorrida das bienais e isso rendia histórias emocionantes.
“Eu estava na fila uma vez e uma mulher veio contar que, na Bienal anterior, estava grávida e o Ziraldo escreveu ‘bem-vinde’ na dedicatória. Dois anos depois ela estava lá, na fila e com o filho no colo, pedindo para ele completar a dedicatória”, conta Deborah Quintal, especialista em literatura infantil. “Ele era um gênio indomável”.
R7