43% dos brasileiros planejam fazer investimentos este ano
Há quem defenda que o ano só começa mesmo após o Carnaval. Com isso, as metas e planos são deixados para o período pós-folia e, se tem um objetivo principal entre os brasileiros para 2024, é ganhar mais dinheiro. Uma pesquisa realizada pela empresa Ipsos apontou que 43% das pessoas querem guardar mais recursos e fazer investimentos. Mas, para quem ainda não conhece o mundo dos investimentos, os primeiros passos podem determinar o sucesso ou não dessas metas.
O assistente de comunicação Wesley Cerqueira, por exemplo, já decidiu que precisa investir para aumentar sua renda. O problema para ele, no entanto, é que ainda não faz ideia de qual tipo de investimento fazer. Até agora, o máximo que ele chegou foi na poupança, mas o rendimento não tem lhe agradado.
O economista Bruno Mota explica que a poupança, de fato, é o investimento mais comum no país, isso porque ela existe desde 1860. “Já o mercado financeiro é pouco conhecido e publicizado, gerava desconfiança e não era atrativo. Mas isso vem sendo alterado desde 2019, quando, em comparação ao ano anterior, houve um salto de 164% no número de investidores, isso significa que naquele ano 700 mil investidores entraram na Bolsa de Valores”, conta.
Ainda assim, o economista é taxativo: o que vai influenciar na escolha do tipo de investimento é o grau de risco que a pessoa aceita correr e o momento da economia. Wesley, por exemplo, revela que tem um perfil mais receoso e menos arrojado. “Gosto de ter segurança, de saber mais ou menos quanto será meu rendimento e de não correr o risco de perder o pouco que já tinha. Sou conservador neste sentido, mas acredito que isso é também porque ainda estou começando”, afirma.
Para perfis como o de Wesley, que está começando, e em um momento em que a taxa Selic tráfega em 11,25% ao ano – em alta mesmo após os consecutivos cortes –, o economista avalia que o melhor tipo de investimento é o de renda fixa, aquele que tem um retorno já pré-fixado ou um indexador, que pode ser a própria Selic, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ou o CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Essa modalidade é conhecida, lembra o economista, justamente por sua maior previsibilidade e menores riscos.
“Também pode render mais que a poupança, valorizando seu dinheiro, mas vale a pena investir pouco na renda variável e aprender aos poucos”, orienta o economista. A dica dele, para quem está começando, é ter uma carteira equilibrada entre as modalidades: investir parte na renda variável (ações) e a maior fatia na renda fixa. “Pode ser: Tesouro Direto, CDBs, debêntures, Fundos de Renda Fixa, LCIs, LCAs, CRIs, CRAs, mas para começar Tesouro direto, como aprendizado”, aconselha.
Mota pontua ainda que é preciso quebrar o paradigma de que investir é coisa para rico. Mas isso deve ser feito, alerta ele, conhecendo pelo menos um pouco do funcionamento do mercado financeiro e investindo quantias que não façam falta imediata ou impeçam quitar um débito. “Invista pouco todo mês e siga conhecendo através de fontes formais”, alerta.
É o que vem buscando fazer Wesley. Ele tem usado plataformas como o Youtube e o Instagram para aprender mais sobre as possibilidades de investimento. A orientação do especialista é acompanhar os canais de comunicação oficiais da Bolsa de Valores Brasileira e da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Além disso, ele acredita que vale a pena escolher um dos bancos digitais que já oferecem a possibilidade de ter uma conta bancária e a possibilidade de investir. O ideal, segundo o economista, é deixar essa conta apenas para investir e ir observando o comportamento dela.
“Nas redes sociais há inúmeras pessoas dando opiniões e sugerindo uma certa agressividade nos investimentos, bem como prometendo altos ganhos financeiros, não caia nessa, amadureça e conheça o funcionamento. Comece com R$ 50 ou R$ 100 todo mês se for possível e não lhe atrapalhe a cumprir seus compromissos financeiros. No longo prazo, terá aprendido e terá um pequeno capital”, opina
Reserva de emergência
Mas, antes de separar o valor a ser investido, alguns passos podem tornar esse processo mais tranquilo. Quem elenca eles é o assessor de investimentos Diego Santana. Conforme o especialista, a primeira etapa é entender o próprio orçamento e formar uma reserva de emergência.
A gente sempre gosta de trazer esse conceito para que as pessoas pensem na formação dessa reserva de emergência porque vai ser algo extremamente importante caso efetivamente alguma emergência aconteça e você tenha de onde tirar esse recurso para cobrir esse tipo de emergência.
Esses primeiros passos vão ajudar, segundo Santana, a se manter firme nesse processo de acúmulo de investimento, que, lembra o assessor financeiro, é a médio e longo prazo. “Se a pessoa está fazendo um investimento para daqui a dois, três, quatro ou dez anos e acontecer algum tipo de problema, uma emergência ou oportunidade, ela vai acabar necessitando de uma retirada inercial. Então onde é que eu vou tirar se eu não tiver efetivamente o fluxo de caixa estabilizado?”, explica Santana.
Outro passo importante elencado pelo especialista é definir um objetivo. Isso Wesley já fez. Ele pretende contribuir para a entrada de seu apartamento. Mas as metas não precisam ser necessariamente algo concreto, esclarece Santana.
“Ter um objetivo para o recurso de médio e longo prazo, principalmente, é essencial para você conseguir se manter nessa fase de acumulação, na fase de construção desse patrimônio. Então, essa definição pode ser tanto uma definição tangível, que é a realização de alguns sonhos, como o atingimento também da independência financeira. Por exemplo, a partir do momento que a pessoa vê a possibilidade de na aposentadoria não depender do trabalho, porque os investimentos conseguem pagar as despesas”, afirma.
Segundo o assessor financeiro, a falta de planejamento e pressa por resultados pode ser um dos principais desafios enfrentados por quem está iniciando no mundo dos investimentos. Ele alerta que é necessário respeitar o prazo para que as coisas aconteçam.
“A gente está vivendo, efetivamente, numa sociedade em que as pessoas querem, cada vez mais, retornos mais rápidos e buscam isso através de soluções que a gente já está vendo que não são vencedoras, como aplicativos de aposta, de investimento, algo que vem trazendo um nível de perda patrimonial muito grande para diversos investidores”, alerta.

A Tarde