Sorgo desponta como alternativa para substituir o milho
O sorgo desponta como uma alternativa cada vez mais atraente para os produtores rurais. Na safra de 2023/2024, houve um crescimento de 190 mil hectares, representando um aumento significativo de 12% em relação à safra anterior, e o cultivo vem se destacando como um indicador marcante na substituição do milho pelo sorgo. O aumento no cultivo do sorgo ao invés do milho é impulsionado pelas características vantajosas do grão e representa uma tendência relevante no cenário agrícola atual.
De acordo com Aloísio Júnior, gerente de agronegócio da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), muitos fatores motivam os produtores rurais a investirem no sorgo. O primeiro deles é por ser resistente ao déficit hídrico, tolerando a seca, principalmente pela safra atual ter as adversidades climáticas pelo fenômeno climático El niño.
“O sorgo é um excelente rotacionador de culturas, com custos de produção menores quando comparado ao milho, além disso é excelente no manejo de nematoides. Infelizmente o cenário atual não está sendo favorável para produção de milho, por adversidades climáticas da atual safra que desmotivaram muitos produtores a investir nas áreas do cereal pelo elevado risco, além dos custos de produção elevados e problemas fitossanitários com cigarrinha e lagartas (spodoptera), que na última safra (22/23), prejudicou muitas lavouras de milho na região”, destaca o gerente.
A característica do produto garante maior palatabilidade no uso para ração animal – principal destino do sorgo no país. O ciclo de vida normal do sorgo vai de 90 dias a 120 dias, mas, assim como sua época de plantio, varia dependendo da cultivar e do local onde é plantado.
O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Barreiras, Davi Schmidt, fala que antes havia uma comercialização insegura em relação ao sorgo por falta de conhecimento, mas acredita que atualmente há mais conhecimento sobre a cultura. “Eu acredito que hoje os compradores do Nordeste, tanto de aves quanto bovinos, já desmistificaram essa questão do uso. Ele é um produto de alta qualidade, proteico, tendo de 1% a 2% de proteína a mais do que o milho e a outra grande vantagem do sorgo é que ele tem um custo mais baixo do que o milho”.
Regiões de destaque
Apesar de ter grande destaque na região Centro-Oeste do país, a Bahia e o Rio Grande do Sul também vêm aumentando as produções e se destacando. Os principais municípios que produzem o cultivo na Bahia são São Desidério, Luís Eduardo Magalhães, Barreiras, Formosa do Rio Preto, Cotegipe.
A região oeste vem se destacando na produção do sorgo. Além do cultivo, outras três culturas são importantes para a região: a soja, o milho e o algodão. Carlos Defacio, agrônomo e franqueado representante da marca Forseed na região de Luís Eduardo Magalhães, diz que o cenário é positivo e a cultura do sorgo vem de encontro com os desafios da região e demanda de produção de grãos para abastecimento regional.
“Este ano o oeste baiano está com a marca inédita de cultivo de 2 milhões de hectares de soja que é a base para todas as outras culturas em especial ao sorgo que entra na sucessão ao cultivo de soja, temos muita área para poder estar crescendo o cultivo do sorgo na região, este ano o sorgo está estimado em 9,5% de cultivo em relação a área de soja, como exemplo o estado de Minas Gerais está por volta de 15% de sucessão de sorgo em relação a soja”, ressalta Carlos Defacio.
O engenheiro agrônomo também cita outro fator importante que é o crescimento da área irrigada na região. “No oeste baiano, já se encontra por volta de 200 mil hectares de área irrigada, podendo certamente parte ser cultivada com sorgo em sucessão à soja”.
Em Barreiras, Davi Schmidt, comenta que hoje há muitas variedades de sorgo na região oferecidas pelas empresas com alto teor produtivo. “Isso fez com que o produtor de animais também procurasse mais o cultivo, por ter muitas opções no mercado”.
Sustentabilidade
O sorgo também possui vantagens sustentáveis que faz com que os produtores cultivem ao invés do milho. O gerente de agronegócios da Aiba diz que o sorgo, além de sua resistência à seca, proporciona um melhor aproveitamento do solo, contribuindo para a formação de palhada essencial para o plantio direto na safra seguinte.
Carlos Defacio também cita alguns aspectos sustentáveis como a ciclagem de nutrientes proporcionando o cultivo de plantio direto no ano seguinte, diminuição de ervas daninhas nas áreas de cultivo, menor custo de produção comparado ao milho e ausência de ataque de cigarrinha, principal praga do milho atualmente.
Ao produzir uma boa quantidade do grão para a alimentação animal, os agricultores também obtêm uma fonte extra de receita ao vender sorgo durante o período entre safras. “A adoção do sorgo pelos produtores, aliada às suas características resilientes, espera-se que essa tendência momentânea de substituição do milho perdure, consolidando o sorgo como uma cultura agrícola estratégica e sustentável no panorama nacional”, complementa Aloísio.
A Tarde