55% dos investidores brasileiros de criptomoedas têm medo de golpes

As criptomoedas (moedas digitais) ainda são novidade para muitas pessoas e por isso existem receios em torno do investimento. Mesmo quem já investe nesses ativos demonstra preocupação, principalmente com relação à segurança de seus dados e recursos, como aponta um levantamento da empresa Kaspersky. De acordo com a pesquisa, 55% dos investidores de criptomoedas no Brasil têm “muito medo” de serem vítimas de golpes. Especialistas explicam que ter atenção aos links e à procedência das corretoras é fundamental para não ser enganado.

Ainda segundo a Kaspersky, as preocupações dos brasileiros são decorrentes do avanço dos golpes envolvendo criptomoedas, já que esse tipo de crime aumentou 40% entre 2021 e 2022. Os golpes podem acontecer de diversas maneiras, a desconfiança principal dos investidores é voltada para links enviados para o celular e e-mail, geralmente por corretoras de criptomoedas falsas e esquemas fraudulentos. A prática de tentar enganar as vítimas para que elas forneçam voluntariamente dados sensíveis através da internet é chamada de “phishing”.

A principal e mais utilizada criptomoeda é a Bitcoin, mas existem outras como a Ethereum, Litecoin, Zcash e Ripple. As moedas digitais têm o mesmo objetivo do dinheiro em espécie, servem para a compra de bens e pagamento de serviços, mas não são regulamentadas por um Banco Central de um governo ou de um determinado país, como explica o economista e Conselheiro do Corecon-Ba, Edval Landulfo.

“A criptomoeda tem fases de produção geralmente chamadas de mineração. Isso acontece com sistemas de computadores em que a partir desses programas vai se originando a produção das Bitcoins, e das outras moedas digitais. Você não precisa fazer transação entre bancos, existe um sistema que é chamado de “blockchain”, onde ficam registradas essas transações realizadas em criptomoeda e onde cada usuário vai ter uma conta que é sigilosa e guardada com segurança, funciona como uma carteira virtual”, diz Landulfo.

Larissa Ribeiro, empresária, especialista e investidora, estuda sobre Bitcoins e o sistema blockchain desde 2013. Ela conta que já sofreu golpes quando começou a lidar com esses ativos, como realizar compras através da criptomoeda e não receber o produto. “Realmente tem um risco (de golpe) porque é igual a um link que às vezes podem te enviar para clonar seu WhatsApp. Estão usando muito a moeda Bitcoin para aplicar golpes por ela ser mais difícil de rastrear”.

A investidora esclarece que existem dois tipos de carteira para moedas digitais, uma chamada Hot Wallet (carteira quente) e outra Cold Wallet (carteira fria). Ela reforça que a Cold Wallet é mais segura, por não estar ligada à internet, e que o investidor precisa estar sempre atento com a utilização de corretoras.

“Quando você tem uma Hot Wallet, os seus bitcoins estão ligados à internet, certo? Ou seja, às vezes eles podem estar em uma corretora que é legalizada no Brasil, mas você recebe um e-mail fraudulento e acaba passando essas informações, e a pessoa conseguiu entrar ali naquela corretora e transferir seus fundos, ou sumir com seus Bitcoins, isso pode acontecer. É como se você tivesse uma conta no Bradesco, você recebe um e-mail e acaba passando sua senha e uma pessoa vai lá e retira o seu dinheiro do Bradesco, então a corretora é o equivalente mais ou menos a uma instituição bancária, vamos dizer assim. Então tem que tomar muito cuidado, quem tem dinheiro nas corretoras precisa ficar bem atento para não sofrer esse tipo de golpe”.

“Já pessoas mais experientes, que já conhecem um pouco mais da ideia do Bitcoin, elas não possuem o dinheiro delas em corretoras, e sim na Cold Wallet, que é a carteira fria que fica em posse dela, então é aquela carteira como se fosse o cofre de sua casa, que seu dinheiro está ali dentro do cofre e que ninguém vai poder retirar. Quando você quiser fazer uma transferência você consegue fazer sem precisar de acesso à internet, é muito mais seguro, e se você perder essa carteira a pessoa que achar vai precisar de inúmeras senhas e passes para poder ter acesso aos seus Bitcoins. Então ela é o seu próprio banco, que é onde a gente sempre recomenda armazenar suas moedas para não sofrer esse tipo de ataque cibernético”, complementa Larissa.

Ainda de acordo com a Kaspersky, o medo em torno do vazamento de dados pessoais aflige 53% dos investidores, seguido pelo receio relacionado a malwares (software malicioso) para celulares e tablets (51%), interceptação de dados por Wi-Fi pública (50%) e captação de senha e outras credenciais de acesso por meio de sites e e-mails falsos.

Fabio Gomes, coordenador dos cursos de Sistemas de Informação, Gestão de TI e Análise Desenvolvimento de Sistemas da Unijorge, salienta que os medos são justificados pois o Brasil é um país que, infelizmente, tem muitos golpes de phishing e engenharia social, o que abre espaço para uma série de outros golpes ou esquemas de pirâmide.

“A forma de se proteger é sempre não clicar em links de desconhecidos, ficar sempre atento às pessoas que estão entrando em contato com você. Muitas vezes o golpista usa a mesma foto que a pessoa real no WhatsApp e afirma que mudou o número na tentativa de enganar a vítima. Para investir na área de criptomoedas é necessário muita pesquisa e utilizar os recursos de forma séria e criteriosa”, diz Gomes.

Empresas fraudulentas

Especialista em criptomoedas, Ramon Luz é professor do Curso de Engenharia da UNIFACS. Ele explica que as moedas digitais são ativos de renda variável, e que os principais golpes partem de empresas fraudulentas que prometem lucros que não podem ser garantidos no futuro devido à volatilidade das criptomoedas.

“Ela (criptomoeda) é um ativo de renda variável, ou seja, ela pode valer um valor amanhã superior ao que você comprou, ou inferior, existe um risco associado, no qual você pode ganhar mais ou pode perder. O grande problema é que existem vários tipos de golpes onde pessoas se passam por corretores de criptomoedas e oferecem um lucro fixo em geral, uma renda fixa informando que é possível você comprar um ativo e ganhar um percentual fixo todo mês”.

“É muito comum, por exemplo, essas empresas oferecerem ganhos acima de 10% ao mês, o que é algo irreal em qualquer tipo de investimento de renda variável, então a grande questão é se você vai investir em um ativo que está te oferecendo o valor acima de 5%, que muito provavelmente é um golpe. Nos últimos tempos empresas de fachada que foram fechadas dizendo que eram corretoras de criptomoedas ofereciam em torno de 30% ao mês, um ganho muito absurdo”, pontua o professor.

Luz orienta que é muito fácil descobrir se uma empresa realmente é uma fraude ou não porque todas as corretoras de criptomoedas possuem registros oficiais e nenhuma delas vai oferecer um ganho fixo, justamente porque a criptomoeda é um ativo de renda variável.

O economista Edval Landulfo reforça que a busca por conhecimento sobre o mercado e sobre as empresas é fundamental para que o investidor possa se proteger. “A primeira coisa que tem que se fazer é ver na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) se as empresas estão registradas para fazer esse tipo de operação, porque o Banco Central e a Bolsa de Valores vão dar todas essas informações de segurança daquela instituição em que a pessoa está entrando. Cada vez mais a gente vê pessoas famosas caindo nesse golpe, o último foi o jogador Scarpa que jogava no Palmeiras e hoje está no futebol inglês, ele perdeu 6 milhões de reais no ano passado e provavelmente não vai recuperar porque não conhecia o mercado”, alerta Landulfo.

A Tarde