Metade dos empreendedores usam cartão e pagam fornecedores a prazo

Para começar ou manter um empreendimento, muitas vezes é necessário buscar formas de financiar o negócio. As opções são diversas, mas o cartão de crédito e o pagamento de fornecedores a prazo são as soluções preferidas dos empresários, segundo estudo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), divulgado em janeiro deste ano. As duas modalidades são utilizadas por 50% dos donos de pequenos negócios do país.

O cartão de crédito lidera a lista das opções mais buscadas, com o uso de 34% dos empresários. O pagamento de fornecedores a prazo vem logo em seguida, com 16%. De acordo com especialistas do Sebrae, as modalidades fazem sucesso porque, atualmente, os empreendedores dão prioridade a soluções mais práticas, que não se encaixam nos empréstimos comerciais tradicionais.

“Os empresários tendem a procurar soluções mais rápidas ou menos engessadas para o negócio. Por isso estas opções predominam. O cartão está no bolso, e é muito mais simples negociar com o fornecedor, de uma boa relação construída, do que abrir conta em um banco e buscar pelos empréstimos de juros mais baixos, porque aqueles liberados automaticamente nos aplicativos ou caixas eletrônicos têm taxas de juros mais altas”, explica a analista do Sebrae Bahia, Adriana Pereira.

Adriana também diz que o uso do cartão de crédito está ligado à facilidade, pois já tem um limite pré-aprovado. Ele é uma boa opção desde que o empresário use um cartão empresarial e pague o cartão em dia. O que se deve evitar é a utilização do cartão pessoal em compras para a empresa, pois isso dificulta a gestão financeira.

Já o pagamento de fornecedores a prazo é uma operação na qual o empreendedor adquire as mercadorias a prazo, pois já é conhecido pelo fornecedor e tem histórico de bom pagamento, como relata a analista.

“A vantagem do pagamento a prazo é que o empresário tem tempo para vender a mercadoria ou transformar o insumo e vender antes de ter que pagar ao fornecedor. Mas, neste caso, o empresário tem que conhecer muito bem o ciclo do negócio dele em termos de prazos e ter cuidado com os parcelamentos que oferta ao cliente para ser uma opção vantajosa”, esclarece Adriana.

O levantamento do Sebrae ainda revela que cheque especial, empréstimos em bancos privados e públicos, pagamento com cheque pré-datado e cooperativas de crédito – somados – não chegam a 30% das opções feitas por empreendedores para financiar o negócio. O economista Marcelo Ferreira acredita que isso acontece pelas altas taxas de juros dessas modalidades, mas ele diz que, sabendo procurar ‘direitinho’, o empreendedor tem alternativas, principalmente de instituições de desenvolvimento, que poderão oferecer taxas mais adequadas à sua atividade.

Controle financeiro

Danilo Santos, dono do restaurante Sabor Caseiro da Chica, conta que utiliza tanto o cartão de crédito quanto a modalidade de pagamento de fornecedores a prazo para financiar seu negócio, mas destaca o uso do cartão.

“O uso do cartão de crédito acontece com mais frequência, isso por conta do prazo e condições de pagamento, ou seja, dá para organizar melhor os pagamentos, em datas diferentes e com isso ter um maior controle financeiro. Acredito que a maioria das empresas está passando por uma recuperação financeira pós-pandemia e a modalidade de uso de cartão de crédito proporciona uma melhor organização e maiores prazos”.

“O cartão gera um fôlego e segurança em algumas compras. Esses prazos estão sendo fundamentais para qualquer negócio atualmente, visto que estamos sofrendo mudanças diariamente de mercado e fornecedores. No ramo alimentício, tivemos grande aumento nos preços dos alimentos nos últimos anos e são justamente esses prazos que geram possibilidade de reduzir os impactos”, completa o empresário.

O economista Marcelo Ferreira ressalta a importância de se variar as opções de financiamento e não ficar preso a uma modalidade só. “Os recursos financeiros não deixam de ser um insumo para a atividade da empresa, portanto, eu acho que é importante ter uma gama de fontes de crédito ampla envolvendo fornecedores, bancos e outras entidades, cartões de crédito, e por aí vai, porque assim a empresa ganha alternativas. Em um determinado momento um tipo de empréstimo vai estar melhor para ela, num outro momento isso pode mudar”.

Ferreira também dá orientações sobre como os empresários devem se organizar para realizar financiamentos. Em primeiro lugar, ele recomenda não misturar as finanças da empresa com as finanças pessoais, depois, fazer pesquisas para avaliar as taxas de juros e as condições de pagamento entre os bancos, fornecedores e cartões de crédito.

Outro cuidado que ele destaca é sempre fazer uma avaliação da necessidade do crédito, ou seja, só financiar quando houver realmente um projeto, algo estruturado e, se houver, de fato, a necessidade de se fazer uma determinada melhoria no negócio.

Ainda segundo o estudo, o cartão de crédito é usado por 36% dos microempreendedores individuais, 29% das microempresas e 27% das empresas de pequeno porte. Já o pagamento de fornecedores a prazo é adotado por 14% dos MEI, 21% das microempresas e 15% dos pequenos negócios. Portanto, o cartão de crédito é muito mais usado pelos MEI’s, enquanto as microempresas dão preferência ao pagamento de fornecedores a prazo.

De acordo com a analista Adriana Pereira, o fato do MEI utilizar mais o cartão tem relação com a pouca bancarização da categoria. Além disso, a maioria dos MEI também alterna muito de fornecedor ou o volume de compras não gera a possibilidade do pagamento a prazo junto a ele. Já as microempresas, com volume maior de compras, e que tenham histórico de boas pagadoras, conseguem negociar melhor as taxas junto ao fornecedor. Ocorre, ainda, de ser um comodismo, porque evita a necessidade de ir ao mercado pesquisar instituições e fazer cadastros.

A Tarde