Cerca de 15% da população não consegue ter filho espontaneamente

Para cerca de 15% da população em idade reprodutiva, o sonho de ter filhos pode não ser realizado de maneira espontânea, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). O percentual equivale a parte da população que é afetada pela infertilidade, tema debatido pelos órgãos de saúde em junho, Mês Mundial de Conscientização da Infertilidade.

A infertilidade conjugal é caracterizada pela ausência de gravidez em um casal com vida sexual ativa e que não usa medidas anticonceptivas por um período de um ou mais anos.

Segundo a ginecologista Gérsia Viana, especialista em medicina reprodutiva e diretora do Cenafert – Centro de Medicina Reprodutiva, entre as causas de infertilidade está o tabagismo. De acordo com o INCA, mulheres que fumam antes da gravidez têm duas vezes mais probabilidade de atraso na concepção e, aproximadamente, 30% mais chances de serem inférteis. As mulheres fumantes também podem ter uma gravidez de alto risco, com má formação placentária, abortamento, descolamento prematuro da placenta, hemorragias uterinas, trombose venosa profunda e risco de morte.

Para o bebê, há o risco de nascimento prematuro e com baixo peso. Recém-nascidos de mães fumantes também têm uma incidência maior de malformações congênitas, retardo e outros problemas.

No caso dos homens, os danos causados pelo cigarro vão desde a disfunção erétil (impotência) até o comprometimento da fertilidade, uma vez que a nicotina pode comprometer a qualidade e motilidade dos espermatozoides.

Outros fatores que influenciam a infertilidade são a obesidade e o sobrepeso e tratamentos para câncer. De acordo com Gérsia, Nas mulheres, o excesso de gordura no organismo causa um desequilíbrio hormonal, interferindo na ovulação e diminuindo as chances de engravidar naturalmente. A obesidade também aumenta, consideravelmente, os riscos da gravidez, inclusive aumentando o índice de abortos e de partos prematuros. No caso dos homens, a obesidade também pode afetar a quantidade e a qualidade dos espermatozoides.

Já os tratamentos para câncer podem causar infertilidade temporária ou irreversível. Por isso, antes de iniciar um tratamento de câncer é recomendável que o paciente e seu médico avaliem, de forma criteriosa, a necessidade e a possibilidade de preservar sua fertilidade através das técnicas de congelamento de óvulos e de sêmen.

A idade também influencia no sonho de ter filhos. Segundo a médica Gérsia Viana, o relógio biológico é uma das principais causas da infertilidade no sexo feminino. Hoje boa parte das mulheres começam a planejar sua gravidez após os 35 anos, justamente na idade em que a fertilidade feminina entra em declínio e quando as chances de uma gravidez espontânea caem consideravelmente. A qualidade e quantidade dos óvulos diminui progressivamente ao longo da vida até a menopausa, quando a mulher para de ovular e encerra sua vida fértil.

Outro ponto são as Infecções Sexualmente Transmissíveis (DSTs) que podem causar danos sérios no aparelho reprodutor dos homens e das mulheres. Usar preservativo nas relações sexuais, realizar os exames de rotina e evitar comportamentos sexuais de risco são cuidados para evitar essas infecções que podem comprometer a fertilidade e causar outros danos à saúde.

No entanto, a questão da infertilidade também está rodeada de mitos. Um deles é o de que para engravidar, um casal deve ter relações diariamente. Conforme a médica, os casais precisam ter uma vida sexual ativa, com frequência regular de relações, inclusive fora do período fértil.

Outro grande mito é que a mulher é a principal responsável pela infertilidade do casal. Conforme a médica, estima-se que cerca de 35% dos casos de infertilidade de um casal são atribuídos à mulher, 35 % aos homens, em 20% dos casos o problema está presente nos dois e em 10% as causas são desconhecidas. Por isso, é fundamental que a investigação da infertilidade seja feita pelos dois sexos.

E quanto a homens vasectomizados e mulheres que fizeram a laqueadura de trompas? Gérsia Viana explica que eles não podem ter mais filhos espontaneamente, mas nos dois casos é possível recorrer à reprodução assistida, através da técnica de Fertilização in Vitro, para conseguir ter filhos.

Também é possível reverter cirurgicamente a vasectomia e a laqueadura, no entanto, as chances de gravidez espontânea após a reversão nem sempre são boas.

A Tarde