Estudo prevê outra grande pandemia ainda neste século

Tudo indica que, de agora em diante, a humanidade terá de lidar com mais pandemias de grande proporção em menores espaços de tempo. A informação é do primeiro estudo a reunir e analisar um registro histórico global abrangente de uma variedade de doenças: do ano 1.600 até hoje, quando enfrentamos a pandemia de covid-19. O estudo, um esforço conjunto entre pesquisadores de universidades da Itália e dos Estados Unidos, foi publicado nesta semana na revista acadêmica PNAS.

A equipe utilizou estimativas recentes da taxa de aumento na emergência de doenças zoonóticas — provenientes do contato entre humanos e animais — associadas às mudanças ambientais e estimou a probabilidade anual de ocorrência de epidemias extremas. O resultado é alarmante: ela pode aumentar em até três vezes nas próximas décadas.

Segundo o modelo desenvolvido na pesquisa, uma pandemia tão mortal quanto a de covid-19 deve chegar em algum momento dentro das próximas seis décadas, enquanto uma pandemia na escala da gripe espanhola (que ocorreu entre 1918 e 1920) pode ocorrer a cada 400 anos — mas pode piorar.

A equipe alertou que a probabilidade anual desses eventos extremos pode aumentar com o tempo, já que doenças emergentes e re-emergentes se tornaram mais comuns nas últimas décadas. A gripe A H1N1, por exemplo, última pandemia em escala global antes do novo coronavírus, ocorreu em 2009. São apenas 10 anos até o surto de covid-19, sendo que no século passado, em média, uma pandemia ocorreu a cada 20 anos.

Na prática, isso significa que, segundo o modelo e a observação do passado, o risco para a humanidade aumentou muito — e tende a aumentar ainda mais. A pandemia de covid-19 até esta terça-feira (24) matou, pelo menos, 4,4 milhões de pessoas. O HIV, causador da AIDS, já matou pelo menos 36 milhões de pessoas desde seu surgimento, na década de 1980.

A covid-19 é responsável pela pandemia mais mortal desde a gripe espanhola — que matou, segundo a maioria das estimativas, em torno de 50 milhões de pessoas.

“Devo dizer que não estamos fazendo previsões sobre o futuro. Estamos caracterizando a probabilidade de ocorrência de grandes epidemias com base em dados históricos”, disse o autor do estudo, William Pan, professor associado de saúde ambiental global na Universidade de Duke, ao site Gizmodo.

Aprendendo a prever pandemias

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O método de modelagem estatística desenvolvido na pesquisa foi usado anteriormente para estimar o risco de eventos climáticos extremos, como inundações. Ele pode determinar uma probabilidade aproximada de pandemias de escala variada ocorrerem anualmente.

Para algo como a pandemia de covid-19, que estamos vivendo, a probabilidade de acontecer em qualquer ano é agora em torno de 2%, o que significa que seria esperado que acontecesse dentro dos próximos 59 anos. Já para um evento como a gripe espanhola, algo semelhante deve acontecer a cada 400 anos, mais ou menos algumas décadas.

Mas, de acordo com outra pesquisa citada por Pan, a probabilidade de uma pandemia acontecer deve cair bastante quanto mais grave for — então um evento como a gripe espanhola deveria ser extremamente raro. No entanto, o novo trabalho mostra que essa probabilidade não diminui tão rapidamente em relação à gravidade. Então mesmo pandemias catastróficas podem acontecer com uma regularidade alarmante.

Embora os números sejam apenas estimativas, a equipe aponta que surtos em pequena escala de doenças emergentes e re-emergentes aumentaram nas últimas décadas. E, segundo sua modelagem, a probabilidade anual de epidemias extremas pode aumentar em três vezes nas próximas décadas. O que pode significar uma pandemia na escala da gripe espanhola a cada 127 anos, em média — e não mais 400.

Pandemias X problemas ambientais

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Segundo Pan, a pobreza, o saneamento deficiente e a falta de bons sistemas de saúde, assim como a falta de cooperação entre os países no monitoramento dessas ameaças, podem permitir que essas doenças continuem a se espalhar.

Pandemias em grande escala são relativamente prováveis de acontecer, segundo os autores, e por causa disso, devemos fazer mais para evitá-las ou diminuir seu impacto quando chegarem. O time alerta que será preciso mais trabalho em equipe entre os países, idealmente auxiliados por estruturas existentes como as Nações Unidas e a Organização Mundial da Saúde.

O artigo não incluiu no estudo a probabilidade do Big One — uma pandemia mortal o suficiente para acabar com a humanidade. Mas eles fizeram uma estimativa: de acordo com seu modelo, uma pandemia que pode matar todos os seres humanos é provável de acontecer nos próximos 12.000 anos.

ARTIGO PNAS:doi.org/10.1073/pnas.2105482118.

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